Principais alimentos concentrados utilizados na pecuária leiteira


A alimentação é o item de maior custo dentro do sistema de produção leiteiro, participando com 40 a 60% do custo de produção total. Desta porcentagem, 35 a 45% são relativos aos alimentos concentrados. Quando o preço do leite cai, uma atitude comum dos produtores é reduzir o fornecimento de concentrados ou optar por um concentrado mais barato, na busca por reduzir custos. O que acontece, na maioria das vezes, é que a produção também cai. Assim, o prejuízo aumenta, já que o leite vale mais do que a comida.



Para não entrar neste círculo vicioso, é preciso ter o raciocínio de dieta de máximo lucro, e não de mínimo custo. Ainda assim, é possível economizar no uso de alimentos concentrados, utilizando-os racionalmente. 
Como?


Conhecendo bem os alimentos: Saber a composição e as propriedades do alimento é importante na decisão de incluí-lo na dieta. A análise, inclusive do preço, deve ser feita com base no percentual de matéria seca que o alimento apresenta. Um alimento barato, mas com baixa quantidade de matéria seca, pode não ser tão barato assim.

Utilizando forragem de boa qualidade e disponibilidade: Quanto melhor a forragem, menor a necessidade de usar concentrados, o que torna a atividade economicamente viável. Uma boa forrageira é aquela que apresenta baixo FDN e boa palatabilidade.
Balanceando as dietas: Para isso, é necessário conhecer as exigências nutricionais dos animais.

Agrupando as categorias por fase de lactação e por produção de leite: Assim, o arraçoamento pode ser diferenciado, por mérito. A pesagem periódica do leite é importante para isso.

Aprofundando no primeiro ponto, a seguir serão apresentadas as propriedades dos principais alimentos concentrados utilizados na alimentação de vacas leiteiras.

Milho

Os concentrados energéticos, em conjunto com a forragem de boa qualidade, fornecem energia para que a microbiota rumenal utilize a proteína oferecida pela forrageira, gerando proteína microbiana e produzindo ácidos graxos voláteis. O milho é a fonte energética mais utilizada na alimentação animal.


Apresenta alto percentual de matéria seca (obviamente, dependendo da época de colheita). Tem baixa porcentagem de fibra e muito carboidrato não fibroso - o amido.

Em um sistema a pasto, apenas o milho chega a representar de 50 a 60% do custo de produção. Por isso, é preciso ser eficiente na compra. Embora não tenha havido uma grande variação nos últimos anos, na safra (março, abril, maio) costuma ser mais barato. A tendência, porém, é que os preços aumentem, já que este alimento é utilizado na alimentação humana, em larga escala na avicultura e na suinocultura e também na produção de biocombustíveis.

Opte por grãos dentados, que são mais bem aproveitados, já que são mais digestíveis. O milho Flint, de um tom alaranjado forte, possui grãos de amido circundados por uma matriz proteica, que dificulta o acesso dos microrganismos do rúmen ao nutriente. Todas as variedades, no entanto, possuem uma parte menos digestível, o endosperma vítreo, que possui a característica descrita para o milho Flint. O grão desejável, com menos “vitreosidade”, é de cor clara, mas também deve ser colhido no ponto correto para que tenha maximizada a digestibilidade.

O processo de ensilagem também ajuda neste aspecto, já que a fermentação provoca proteólise. Melhor ainda, a silagem de grão úmido. Outros processos para melhorar a ação das bactérias do rúmen sobre o milho são a moagem fina e a floculação.

Sorgo grão


O sorgo grão pode ser uma boa opção na safrinha, nos meses de maio e junho, com preços mais baixos do que os do milho. Ele tem a composição parecida com a do milho, mas com um pouco mais de proteína e de fibra e, consequentemente, menos amido, que é de mais baixa digestibilidade. Por estas razões, o valor energético deste alimento fica em torno de 85 a 90% do milho. Portanto, ao realizar a substituição de um pelo outro na alimentação dos animais, é preciso ajustar a quantidade fornecida. Uma opção interessante é utilizá-lo para a recria e para os animais de menor produção.

Melaço

O melaço é uma fonte energética altamente palatável. Porém, é bastante caro, o que exclui este alimento das opções de substituto do milho. Na bovinocultura, é utilizado como palatabilizante na ração inicial de bezerras (3 a 5% do concentrado), para estimular o consumo. Normalmente, já está incluído em rações iniciais comerciais.

Polpa cítrica

O Brasil é o maior exportador de suco de laranja do mundo. A polpa cítrica é o resíduo de laranja da indústria. Assim como o suco, grande parte da polpa cítrica também é exportada. Quando o dólar está baixo ou quando o preço do milho está mais alto, fica um pouco mais de polpa cítrica no mercado brasileiro.


Este alimento é muito interessante pela alta digestibilidade e alto valor energético. O carboidrato da polpa é formado por pectina e açúcar, que são altamente degradáveis no rúmen. É fonte de fibra, apesar da fibra não ser tão efetiva quanto a da forragem.

Quando substitui o milho na dieta, consegue manter a produção de leite, apesar de deter o dobro de fibra. Isso porque o carboidrato não fibroso é muito disponível no rúmen e a fibra é de alta degradabilidade. Porém, em vacas de alta produção de leite, não é recomendado substituir todo o milho por polpa, pois isso está associado à queda de consumo. A explicação para este fato é o efeito físico de enchimento do rúmen, devido à polpa ser muito higroscópica (absorve água).

A substituição da maior parte do milho por polpa diminui a proteína do leite. O ideal é ter uma parte de ambos. Assim, os carboidratos presentes nos dois alimentos se complementam (amido + pectina + açúcar), podendo ser muito benéfico.

Entre abril e maio, é possível fechar contratos de polpa cítrica, onde um preço fixo é estabelecido, deixando o produtor menos susceptível aos preços de entressafra de milho, que fazem com que o preço da polpa também suba. O pagamento é feito depois de retirar o produto. A polpa começa a entrar no mercado na época da safra de laranja (junho, julho).

Farelo de soja


O farelo de soja é a principal fonte proteica na alimentação dos bovinos, apresentando alta porcentagem de proteína degradável no rúmen (PDR). É palatável e de alta digestibilidade. O farelo é resultante da extração do óleo de soja por solventes. Resíduos de casquinha de soja compõe a fibra do alimento (FDN), que, no entanto é baixa e de excelente digestibilidade.



Apresenta alta porcentagem de matéria seca, em torno de 90%, e de proteína, cerca de 50%. Quando o farelo contém um percentual proteico mais baixo é porque ele é adicionado de casquinha de soja.

Há uma tendência de preços menores na safra (abril, março), sendo possível fechar contratos nessa época.

Casquinha de soja

Interessante para regiões próximas às indústrias processadoras de soja. Boa opção de subproduto para utilizar em conjunto com milho e farelo de soja. Apresenta baixa proteína (14%) e alta porcentagem de fibra (60% FDN), que é de alta digestibilidade. Quando parte do milho é substituída por casquinha, não há queda na produção de leite. Isso porque a fibra é de altíssima digestibilidade, com apenas 2,5% de liginina. Também porque o carboidrato do milho produzido no Brasil é de baixa digestibilidade. Além da economia obtida, pela casquinha ser mais barata, se ganha em saúde ruminal.


Comparar viabilidade com outras fontes energéticas, como milho, polpa e sorgo.
Soja grão

Alimento extremamente interessante e pouco difundido. O nível proteico é bom, além de ser muito energético. Não é muito encontrado no mercado devido ao comércio com as esmagadoras, para a produção de óleo de soja.

Possui alto percentual de matéria seca (90%) e de NDT (99%). A fibra é baixa e de excelente digestibilidade. O limitante é a quantidade de óleo (alto Extrato Etéreo), que apresenta como consequência a redução da gordura do leite e a ocorrência de diarreias, quando oferecida acima de 2,5kg/vaca/dia. Além disso, é um alimento sujeito à rancificação depois de moído. A moagem é necessária para aumentar a digestibilidade, evitando que saiam muitos grãos nas fezes.

Há uma crença de que a soja grão tenha uma série de restrições para vaca de leite, mas na verdade não. Os vários fatores anti-nutricionais existentes no produto, que seriam um problema para mongástricos, são degradados no rúmen. O único porém é a urease, caso seja utilizada ureia na dieta, pois libera forte odor de amônia, diminuindo a palatabilidade.

Para aumentar o teor de proteína não degradável no rúmen (PNDR), são realizados processamentos de tostagem ou extrusão. O cuidado deve ser com o super processamento, já que indisponibiliza proteína.

Farelo de algodão

Opção interessante quando os preços de soja estão altos. Porém, contém menos energia, cerca de 40% de PB e o dobro de fibra. A fibra do farelo vem da casca do algodão, que é de baixa digestibilidade. Ao ponderar sobre a escolha entre farelo de algodão ou farelo de soja, calcule o preço do quilo de proteína bruta.
Evite o uso em dietas para vacas de alta produção, onde estaria se fornecendo menos energia e uma fibra de pior qualidade. O melhor é fazer substituição estratégica na recria e vacas secas, poupando as vacas de alta produção.

Atenção também para a composição, que pode ser muito variável, tanto em proteína bruta como em fibra. O farelo de algodão 28%, encontrado comumente no comércio, é adicionado de casca de algodão, fibra de péssima qualidade. 

A extração do farelo de algodão é feita por solventes.

*O Gossipol do farelo de algodão não é um problema para ruminantes. Pode afetar a reprodução, mas a maior parte desta substância presente nos farelos está indisponível, devido ao processamento. O caroço de algodão tem muito mais gossipol livre. No entanto, os microorganismos do rúmen degradam grande parte desta toxina. Para causar problemas em vacas, a quantidade de caroço a ser fornecida teria de ser muito alta (>7kg/animal).

Torta de algodão



O que muda em relação ao farelo de algodão é o método de extração de óleo, que neste caso é a prensagem. Este tipo de processamento retém mais Extrato Etéreo (óleo), e consequentemente menos PB (33%) e mais fibra (quase 60%). Para piorar, da proteína existente, parte não é disponível e a fibra é de média para baixa digestibilidade. O NDT é de 50%, o que se traduz em energia mais baixa.

Caroço de algodão

O caroço de algodão tem sido cada vez menos utilizado na alimentação de bovinos, devido ao preço alto, já que está sendo utilizado para produção de biodiesel.


Como tem em torno de 23% de proteína, o preço do kg da proteína bruta pode sair mais caro do que o do farelo de soja, que é um alimento de muito melhor qualidade, pelo melhor perfil de aminoácidos.

O caroço de algodão é bastante fibroso. A fibra, de média digestibilidade, é formada pela casca do caroço e pelo línter, que é o resíduo de algodão que fica aderido ao caroço. As sementes sem o línter possuem menor digestibilidade.

Em razão da presença do línter, o caroço de algodão é altamente efetivo em estimular ruminação, com consequente aumento na gordura do leite. Assim, em dietas muito concentradas, compostas por boa silagem de milho e farelo de soja, a inclusão do caroço de algodão é excelente para garantir a saúde do rúmen.

Atenção ao alto risco de contaminação por micotoxinas, principalmente por estocagem inadequada nas fontes produtoras.

Quanto ao temido gossipol, não é um problema, pois as quantidades oferecidas de caroço, limitadas pelo percentual de gordura do alimento, são insuficientes para causar danos reprodutivos em vacas. Machos são mais sensíveis.

Farelo de amendoim


Alimento com baixo percentual de fibra, de média digestibilidade. Quando a quantidade de fibra está alta é porque foi acrescentada grande quantidade de casca de amendoim.

É uma boa opção com preço de soja alto, porém há o risco de contaminação com micotoxinas. Outra questão é que há pouca padronização do produto, o que deve ser avaliado com atenção no momento da compra.

Farelo de girassol

Produto da extração de óleo do girassol. Apresenta em torno de 28% de PB. A fibra é altíssima e de muito baixa digestibilidade. Na alimentação animal, não é utilizado em criações de mais alta exigência, como suínos e aves. A variação na composição depende da quantidade de casca.

Farelo de trigo

O farelo de trigo é altamente fibroso (46%), mas a fibra é de boa digestibilidade. É bastante palatável, por isso muito usado em rações iniciais. O preço normalmente é alto, o que não compensa para um produto com baixo NDT e proteína.

Cevada (Resíduo de Cervejaria)

A Cevada apresenta matéria seca muito baixa e muito variável, então nunca se tem certeza da quantidade de alimento que está sendo fornecido. A grande quantidade de água inviabiliza o transporte e a estocagem (estraga rápido, cresce fungo). Portanto, é alternativa apenas para quem está próximo das fontes processadoras.


Além destas, são diversas as opções de alimentos concentrados para vacas leiteiras. No entanto, é importante frisar que o foco, pensando em custos, deve estar na produção de volumosos de qualidade e em quantidade suficiente. Não há possibilidade de produzir leite de maneira lucrativa apenas com concentrados.

Outro aspecto importante, é que não adianta uma dieta maravilhosa que a vaca não come. A preocupação deve ser em formular uma dieta que seja balanceada, produzida fielmente e consumida integralmente. 


fonte: rehagro


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